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domingo, 29 de dezembro de 2013

Tudo em nome do sonho

História da São Silvestre é feita de personagens como o garçom Evandro, que não mede esforços para participar da tradicional corrida

Para alcançar seus sonhos, o garçom Evandro Gomes, de 52 anos, precisou de muito mais do que equilibrar copos na bandeja. Foram noites em claro, treinos em estrada de terra, vaquinha dos amigos para viajar e muita disposição para se tornar um maratonista. Terça-feira, Evandro será um dos 27,5 mil atletas a disputar a 89ª edição da corrida de São Silvestre, a mais tradicional prova de rua do país, com largada às 9h (elite masculina), em frente ao Museu de Arte de São Paulo, na capital paulista.

Esta será a terceira vez que Evandro vai correr a São Silvestre. Como seu melhor tempo foi 53min – o campeão do ano passado, o queniano Edwin Kipsang, correu em 44min04 –, dificilmente estará entre os primeiros colocados. Mas o que o torna um vencedor é sua história de superação semelhante à de tantos outros atletas que se aventuram pelas ruas e pistas do país. Garçom há três décadas, ele só começou a correr há 10 anos para se prevenir de problemas de saúde. Tomou gosto pelas provas e já coleciona participação em quatro maratonas – 42.195m –, além de provas menores em todo o país.

A rotina é desgastante. Como o salário de garçom terceirizado do Tribunal de Justiça de Minas Gerais não é o suficiente para sustentar a família, Evandro precisa se desdobrar em jornada dupla para pagar as despesas com o esporte, que chega a custar até R$ 1,5 mil em alguns meses. “Já teve prova que deu disputei sem dormir. Saí do trabalho, troquei roupa no ônibus e já desci pronto para largar”, lembra o corredor, que vai viajar a São Paulo, hoje à noite, graças à ajuda de amigos e apoiadores.

“Disputar a São Silvestre fica caro, uns R$ 1,2 mil, contando inscrição, hospedagem e alimentação. Eu consegui R$ 800. O que falta vou ter que trabalhar para conseguir”, conta o garçom, que arrumou outro jeito de arrecadar um dinheiro extra: entregar panfleto e imã de geladeira no caminho de volta para casa. Os treinos são na estrada de terra, para ganhar mais resistência. “Corro em estrada, entre Esmeraldas e Ribeirão das Neves, que é onde eu moro. Às vezes, vou tão cedo correr que quando volto o sol ainda nem saiu.”

CONFIANÇA

 Evandro embarca hoje para São Paulo junto com mais 60 atletas, em dois ônibus organizados pela Casa do Corredor. A programação da São Silvestre começou ontem com a São Silvestrinha, prova infantojuvenil realizada no Ibirapuera. A 89ª edição da prova será terça-feira, com largada às 8h40 (feminino) e às 9h (masculino). Entre os atletas de elite, a chance de pódio “mineiro” é da equipe de atletismo do Cruzeiro, que será representada por seis atletas, entre eles o veterano Giomar Pereira, hexacampeão do circuito Caixa.

O Brasil não vence a elite masculina desde 2010, quando ficou em primeiro com Marílson Gomes dos Santos. No feminino, o jejum é maior: desde 2006, quando a mineira Lucélia Peres, de Paracatu, sagrou-se campeã.

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