Por ter dado três títulos brasileiros ao São Paulo, Muricy Ramalho é
talvez o único treinador com autonomia e liberdade suficientes para
criticar em público a diretoria. Porém, tem sofrido do mesmo mal que
seus menos destemidos antecessores, os quais igualmente quase não eram
atendidos pelo clube nos pedidos por reforços para o time.
Após a
eliminação na Copa Sul-americana, Muricy atrelou a temporada sofrível
ao ruim planejamento e exigiu contratações de ponta. "Tem que ser de
nível muito alto, senão eu não vou concordar. Tem que ter currículo para
ser campeão", falou, em recado ao presidente Juvenal Juvêncio.
No
entanto, dias depois, antes mesmo de renovar contrato com o treinador, o
mandatário desdenhou da exigência. "Não tem nada de estrela. Quero o
cara que joga mesmo, que carrega o piano. Estou precisando disso", disse
Juvenal, quando questionado sobre o que havia dito o técnico.
De
lá para cá, o único jogador a reforçar o elenco foi Luis Ricardo.
Ocorre que o lateral de 29 anos, além de não se encaixar ao perfil
pedido pela comissão técnica – despontou apenas nesta temporada, com a
camisa da Portuguesa –, era alvo de interesse da diretoria antes mesmo
de Muricy ter retornado ao clube. Não foi, portanto, uma solicitação
sua, ainda que lhe agrade.
Não é de hoje que a atual gestão busca
opções nem sempre indicadas pelos treinadores. Desde o ano passado,
principalmente quando Ney Franco dirigia o time, a maior parte dos
reforços era de jogadores pensados pelos próprios dirigentes, jogadores
oferecidos por empresários ou que vinham como compensação de outras
transações. O aval do comandante, em alguns casos, tornava-se algo
secundário.
Poucos foram os reforços não indicados que vingaram. O
lateral esquerdo Reinaldo, oferecido para ser a terceira opção no
elenco, não só tomou a titularidade como renovou contrato por quatro
anos. Mas foi uma exceção em meio a uma lista de outros tantos que não
deram certo, como o zagueiro Lúcio e o lateral esquerdo Clemente
Rodríguez (ambos contratados por vontade de Adalberto Baptista,
ex-diretor de futebol), além do meia-atacante Roni e o atacante
Silvinho, por exemplo.
Em maio deste ano, dois meses antes de ser
demitido, Ney Franco negou que não fosse atendido pela cúpula presidida
por Juvenal. "Passam uma imagem de que treinador não tem autonomia para
tomar decisões no São Paulo. Não tenho reclamação nenhuma. Em alguns
momentos, o clube traz o atleta, e cabe ao treinador utilizá-lo da forma
que acha interessante. Em outros, o treinador indica o atleta. Tenho
autonomia desde que cheguei", jurava.
Já sem Adalberto no
futebol, Paulo Autuori (sucessor de Ney Franco) não teve muito o que
pedir, tendo em conta que assumiu o time no decorrer da temporada, e
acabou recebendo três jogadores do mesmo empresário: os zagueiros
Antônio Carlos e Roger Carvalho – após lesão, só estreará em 2014 – e o
atacante Welliton. Muricy, por sua vez, elaborou uma detalhada lista de
possíveis reforços, alguns que já atuaram consigo em outros times, mas
até agora também não teve sucesso.
O treinador está irritado com a
demora do clube para reforçar o grupo, sua principal exigência quando
aceitou prolongar por dois anos o vínculo com o clube. Depois de ouvir
que não teria novidades até janeiro, foi consolado ao menos com a
confirmação de que o gerente executivo de futebol, Gustavo Vieira,
viajou nessa semana à Europa para tentar viabilizar alguns nomes de sua
relação.
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